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Idosos, pobres, negros e solteiros compõem perfil mais associado à ausência de tratamento do câncer

Um em cada catorze pacientes com novo diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço não faz tratamento para sua doença, sendo que as taxas mais altas de falta de tratamento estão entre os pobres e as minorias raciais, impulsionado por disparidades na disponibilidade e prestação de cuidados. Os dados são do estudo Untreated head and neck cancer: Natural history and associated factors, publicado na revista científica Head & Neck por pesquisadores do Departamento de Otorrinolaringologia da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.



A coorte do estudo incluiu 6.477 pacientes que não receberam tratamento. Eles foram identificados a partir do banco de dados de Vigilância, Epidemiologia e Resultados Finais (SEER). No geral, os pacientes não tratados tiveram uma sobrevida mediana de doze meses, com variabilidade significativa por local e estádio da doença. A análise multivariada identificou idade avançada, raça negra, estado civil solteiro e falta de seguro privado como os fatores mais fortemente associados à ausência de tratamento.


As taxas mais altas de falta de tratamento entre os pobres e as minorias raciais evidenciam a importância da equidade na oferta de saúde. “Se no Brasil, onde temos a amplitude do SUS, ainda convivemos com a desigualdade do acesso para a população mais vulnerável, nos Estados Unidos – onde o Medicare e Medicaid são igualmente frágeis - não seria diferente”, observa o Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço.


O Medicare é um programa de saúde federal voltado para a assistência de pessoas com 65 anos ou mais. Já o Medicaid é um programa de saúde público para pessoas de baixa renda. Assim como o SUS é fundamental para a busca pela equidade na oferta de saúde no Brasil, o Medcare e Medicaid são importantes na assistência à saúde nos EUA e tem se aperfeiçoado após a aprovação da Lei ObamaCare, promulgada em 2010.

Epidemiologia do câncer de cabeça e pescoço nos Estados Unidos


O câncer de cabeça e pescoço é um dos dez tipos mais comuns de câncer nos Estados Unidos, com cerca de 53 mil novos casos a cada ano. Apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas, radioterapia e quimioterapia, a sobrevida mediana de cinco anos está em 60%. Dentre os desafios para a melhor tomada de decisão está a observação da idade do paciente e suas comorbidades.


Trabalhos recentes têm demonstrado que a cirurgia definitiva para pacientes idosos pode ser realizada com segurança. No entanto, entre os que apresentam doença avançada, o tratamento é muitas vezes mórbido, exigindo cirurgias desfigurantes. Há também aumento do risco de disfagia, disfonia e piora da qualidade de vida. Em um estudo recente com 1.729 pacientes que realizaram tratamento para câncer de cabeça e pescoço, 61% deles sentiram algum grau de arrependimento sobre sua decisão de tratamento. Os sintomas apresentados foram o principal motivo de descontentamento.


São muitas as razões pelas quais os pacientes diagnosticados tomem a decisão de não aderir ao tratamento. Os principais são a idade avançada, comorbidades, razões pessoais e financeiras, suporte reduzido da rede de saúde, falta de vontade de passar pelo rigor da terapia multimodal ou uma combinação destes fatores.


Referência do estudo


Zolkind P, Lee JJ, Jackson RS, Pipkorn P, Massa ST. Untreated head and neck cancer: Natural history and associated factors. Head Neck. 2021 Jan;43(1):89-97.


Disponível em : https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/hed.26460

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