A experiência com 190 casos de esvaziamento cervical por via retroauricular, ou seja, com cirurgias de retirada de tumores na região de Cabeça e Pescoço por um acesso atrás da orelha, mostra que a técnica, realizada por vídeo com e sem utilização do robô, é segura e eficaz, com potenciais complicações comparáveis à técnica convencional. Embora seja maior o tempo cirúrgico, o resultado estético claramente superior.
As conclusões são do estudo Anatomy, technique, and results of robotic retroauricular approach to neck dissection, publicado na revista científica The Anatomical Record pelo cirurgião de cabeça e pescoço, coordenador do Centro de Referência em Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C. Camargo Cancer Center e Professor Titular de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP, Doutor Luiz Paulo Kowalski e pelo cirurgião oncológico Doutor Renan Lira, cirurgião de cabeça e pescoço do A.C. Camargo Cancer Center.
Dentre os casos incluídos no trabalho, 148 foram operados por via robótica e 42 foram assistidos por vídeo. Do total de pacientes operados com uso de robô, 46 tinham câncer de laringe, 39 de cavidade oral, 52 de tireoide do tipo papilífero e onze tinham tumores em outras localizações da região de cabeça e pescoço. A grande maioria das cirurgias videoassistidas (38 de 42 casos) foi realizada como parte do tratamento de tumores da cavidade oral. Não houve conversões para técnica convencional.
O estudo mostra que em poucos casos houve a necessidade de reoperações, desta vez por abordagem convencional, por conta de doença recorrente. Foram apenas cinco procedimentos, sendo três por causa de hematoma e dois em razão de fístula. Os benefícios do método robótico ou videoassistido com acesso por trás da orelha se confirmaram em todas as análises realizadas pelo grupo. “A única desvantagem relatada de forma consistente é um tempo operatório mais longo”, relata Dr. Kowalski.
Capacitação dos cirurgiões para a técnica
A abordagem retroauricular está se solidificando como opção versátil para pacientes com câncer de Cabeça e Pescoço. Nesta técnica, após incisão atrás da orelha, um retalho de pele é elevado e um afastador é colocado, criando espaço de trabalho para que o braço robótico ou endoscópico acesse a lesão. Numerosas séries publicadas têm mostrado a segurança e resultados favoráveis de esvaziamentos cervicais robóticos retroauriculares, sem aumento no risco de complicações ou mortes relacionadas à cirurgia.
De acordo com Dr. Kowalski, a modalidade está em processo de expansão no Brasil. No A.C. Camargo, por exemplo, está sendo oferecido treinamento para capacitar outros cirurgiões de cabeça e pescoço, inclusive de outras instituições. “Os cirurgiões desta área já estão familiarizados com esta anatomia, que é complexa. Eles são treinados para realizar esvaziamentos cervicais tradicionais, mas ter o conhecimento profundo de pontos de referência e localização precisa das cadeias de linfonodos, músculos, vasos e nervos facilita a curva de aprendizado de esvaziamento cervical robótico”, ressalta.
Dr. Kowalski reforça que a experiência adquirida ao longo do tempo propiciará que cada cirurgião oncológico amplie os benefícios para seus pacientes. “Conforme nossa experiência cresce, nós realizamos mais sessões de treinamento para ensinar e supervisionar outros cirurgiões brasileiros de cabeça e pescoço, ajudando a preparar colegas para realizar esses procedimentos em outros hospitais”, comenta.
As indicações mais comuns são para casos clinicamente selecionados de câncer oral, de orofaringe e tireoide. No estudo, os autores explicam que todos os pacientes que atendem aos critérios e são considerados adequados para abordagem retroauricular são informados sobre suas opções de abordagem (convencional ou retroauricular).
Atualmente, conclui Dr. Kowalski, seu grupo está trabalhando em uma análise objetiva de satisfação do paciente e resultados cosméticos em cirurgia retroauricular comparada com esvaziamento cervical convencional. O objetivo é esclarecer o real impacto e benefícios do esvaziamento cervical robótico/endoscópico.
Referência do estudo
Kowalski LP, Lira RB. Anatomy, technique, and results of robotic retroauricular approach to neck dissection. Anat Rec (Hoboken). 2021 Mar 26.
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