O câncer de tireoide do tipo papilífero apresenta alta incidência em todo o mundo e bons resultados de resposta dos pacientes quando submetidos ao tratamento. As taxas de sobrevida em 10 anos giram em torno de 93%. No entanto, 28% dos pacientes desenvolvem recorrência locorregional, ou seja, a volta da doença na mesma região.
O desafio está em predizer quem são esses pacientes em maior risco de desenvolver novamente a doença e, desta forma, poderem ser direcionados para abordagens clínicas específicas e mais efetivas. Um caminho para esta resposta está no estudo Predictors of recurrence after total thyroidectomy in 1,611 patients with papillary thyroid carcinoma: postoperative stimulated serum thyroglobulin and ATA initial and dynamic risk assessment, publicado por pesquisadores do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo.
De acordo com os pesquisadores, a resposta está na combinação do sistema de estadiamento da American Thyroid Association (ATA) com a análise da tireoglobulina sérica (s-Tg) no pós-operatório. “Vimos, por meio desta investigação combinada, que é possível estabelecer as estimativas iniciais de risco, que podem ser depois refinadas com base na avaliação dinâmica de risco após a resposta à terapia. Com isso, se torna guia útil para recomendações de acompanhamento destes pacientes”, explica o cirurgião oncológico Dr. Luiz Paulo Kowalski, que é um dos autores do estudo.
Em suma, usando o sistema ATA e análise s-TG, o risco de recorrência do PTC pode ser estimado pelas características clinicopatológicas como idade, presença de extensão extratireoidiana ou presença de metástases regionais. A medição da tireoglobulina sérica (Tg) após estimulação de TSH (Tg estimulada [sTg]) pode ajudar a avaliar a persistência ou presença da doença remanescente da tireoide e prever o potencial risco de recorrência. O estudo contou com a análise dos dados de 1.611 pacientes submetidos à tireoidectomia total, que na maioria dos casos (87,3%) receberam a administração de iodo radioativo.
Após um acompanhamento médio de 61,5 meses foi diagnosticada recorrência do tumor em 99 (6,1%) pacientes. De acordo com o risco ATA, a recorrência foi identificada em 2,3% dos pacientes de baixo risco, 9% dos pacientes de risco intermediário e 25% dos pacientes de alto risco. Pacientes com risco de baixo a intermediário de ATA com níveis de s-Tg pós-operatórios <10 ng/mL com excelente resposta ao tratamento tiveram uma taxa de recorrência muito baixa (<0,8%).
Em contraste, foram observadas taxas de recorrência mais elevadas em pacientes de risco intermediário a alto risco com s-Tg pós-operatória ≥ 10 ng/mL e resposta indeterminada (25%) e naqueles com resposta incompleta, independentemente da categoria ATA ou pós-operatório. Usando proporção de variância explicada (PVE), a recorrência prevista usando a avaliação de risco inicial de ATA isoladamente foi de 12,7% e aumentou para 29,9% quando a s-Tg pós-operatória foi adicionada ao modelo de regressão logística e para 49,1% com estratificação de risco dinâmica.
Os autores concluem que as estimativas iniciais de risco podem ser refinadas com base na avaliação dinâmica de risco após a resposta à terapia, fornecendo assim um guia útil para recomendações de acompanhamento.
Referência do estudo
Ywata de Carvalho A, Kohler HF, Ywata de Carvalho CCG, Vartanian JG, Kowalski LP. Predictors of recurrence after total thyroidectomy in 1,611 patients with papillary thyroid carcinoma: postoperative stimulated serum thyroglobulin and ATA initial and dynamic risk assessment. Arch Endocrinol Metab. 2024 Apr 4;68:e220506.
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