O câncer de boca é o tipo de tumor mais comum na região da cabeça e pescoço. Atualmente cerca de 15.190 casos de câncer de boca são diagnosticados no Brasil a cada ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Uma forma de reduzir essa incidência é com a atuação do dentista, que pode contribuir diretamente na prevenção e no diagnóstico precoce da doença. Além de detectar e contribuir na orientação para que pacientes evitem os fatores de risco de um tumor na cavidade oral, o dentista tem um trabalho muito importante na qualidade de vida das pessoas: afinal, a saúde do nosso organismo começa pela boca: a higiene bucal ajuda a manter os dentes e as mucosas saudáveis, auxiliando nos processos de deglutição e alimentação, pois a quebra dos alimentos, juntamente com as enzimas da saliva, inicia a digestão pela boca e faz com que o bolo alimentar chegue melhor ao intestino e a outros órgãos, favorecendo uma melhor absorção dos nutrientes.
Por essas razões, é muito importante a consulta periódica com um dentista – ao menos duas vezes ao ano. E durante esses atendimentos, também é fundamental que o profissional realize uma inspeção muito criteriosa da boca. Além de avaliar os dentes, deve analisar as mucosas da cavidade oral, como a borda e o ventre da língua, o assoalho da boca (que fica abaixo da língua), a jugal (região interna das bochechas), as gengivas (como a vestibular ou lingual) e o palato, sem esquecer dos lábios.
Para entender melhor a importância do dentista para o diagnóstico precoce e prevenção do câncer de boca, conversamos com Dr. Fábio de Abreu Alves, Head de Estomatologia do A.C.Camargo Cancer. Confira nossa conversa:
Clínica Kowalski: Quais os sinais suspeitos de um câncer de boca que o dentista pode identificar?
Dr. Fábio de Abreu Alves: A avaliação feita pelo dentista deve procurar por lesões que tenham áreas esbranquiçadas ou avermelhadas, como também por feridas que possam ser doloridas ou indolores – em muitos casos de câncer de boca, essa ferida (úlcera) não causa sintomatologia nos estágios iniciais. Outros sinais em que o dentista deve estar atento são nódulos ou caroços na cavidade oral.
Clínica Kowalski: Qual a característica das lesões na boca que podem indicar maior risco de um câncer bucal?
Dr. Fábio de Abreu Alves: Essas lesões brancas ou avermelhadas podem preceder um câncer na boca. Contudo, não é possível estabelecer qual ou quais lesões podem progredir para o câncer. Sendo assim, todas devem ter um acompanhamento regular.
O câncer de boca, geralmente, aparece como uma úlcera, inicialmente sem dor, mas com o passar do tempo pode se tornar dolorida. Um dado importante a ser investigado pelo dentista são feridas que não cicatrizam: uma úlcera ou outro tipo de lesão deve cicatrizar em até 15 dias. Se não desparecer durante esse período, deve ser investigada pelo especialista.
Clínica Kowalski: Quais sintomas do dia a dia um paciente pode relatar que merece uma atenção maior do dentista?
Dr. Fábio de Abreu Alves: O paciente pode ficar atento às áreas da boca que estejam ardendo ou com alguma intolerância. Qualquer região que apresente uma sintomatologia leve, ardência ou dor leve, precisa ser investigada pois pode ser uma lesão inicial do câncer.
Outros pontos de atenção são áreas que ficam endurecidas, como um caroço. Prestar atenção em sintomas como mudanças na voz ou na forma de falar, dificuldades para articular as palavras e para deglutir. Na ocorrência desses casos, procurar um especialista para um diagnóstico mais preciso é fundamental. E independente desses sintomas, todas as pessoas devem visitar o dentista duas vezes ao ano, para fazer o checkup da boca e verificar se está tudo em ordem (não só os dentes, mas também as mucosas da boca).
Clínica Kowalski: Como o dentista pode proceder ao encontrar lesões suspeitas de um câncer de boca em uma consulta de rotina?
Dr. Fábio de Abreu Alves: O dentista tem três possibilidades: a primeira é ele mesmo fazer o diagnóstico. O dentista está apto a fazer uma biópsia para chegar a um resultado mais conclusivo sobre o caso. O profissional também pode encaminhar para uma outra área: a estomatologia, que conta com especialistas no diagnóstico de doenças na região da boca. Ou por fim, se o dentista tiver mais evidências de que se trata de um câncer, ele também pode levar o caso para o cirurgião de cabeça e pescoço para a definição do melhor tratamento para esse paciente.
Clínica Kowalski: Quais os locais de maior incidência do câncer bucal?
Dr. Fábio de Abreu Alves: A borda da língua é a região mais frequentemente acometida pelo câncer de boca. Por isso é importante uma atenção maior do dentista nessa região, especialmente nas laterais. Outra região com uma incidência maior de um tumor maligno é o assoalho da boca (a parte de baixo que fica entre a língua e o dente).
Nos lábios também podem surgir um câncer, principalmente no lábio inferior, por causa da exposição aos raios solares. Já na gengiva e na parte interna da bochecha é mais raro o surgimento da doença.
Clínica Kowalski: Existem fatores de risco do câncer de boca ligados à falta de higiene bucal?
Dr. Fábio de Abreu Alves: Os maiores fatores de risco para o câncer na cavidade oral são o tabagismo e o consumo de bebidas alcóolicas. Já para o câncer nos lábios, a radiação solar é a principal causa da doença.
Estudos apontam a relação entre a falta de higiene bucal com o desenvolvimento do câncer, especialmente em casos de pacientes com doenças periodontais, que atingem as gengivas. No entanto, essa relação ainda segue em análise por outras pesquisas, pois existem estudos que mostram que essa evidência não é tão forte.
Clínica Kowalski: Como o dentista pode ajudar na prevenção do câncer de boca?
Dr. Fábio de Abreu Alves: Todo dentista deve orientar o paciente sobre os possíveis riscos do tabaco e do álcool com relação ao câncer. Questionar se a pessoa fuma ou bebe e, em caso de resposta positiva, encorajar e aconselhar para que interrompa esses hábitos. Se o paciente responder que não, parabenize-o como uma forma de incentivo, lembrando que essas ações devem ser evitadas pois são fatores de risco para o câncer de boca.
Outro ponto importante da atuação do dentista é ir além da prevenção e trabalhar também no diagnóstico precoce. Porque esse é o profissional que mais tem contato com a boca de uma parcela muito grande da população. Ao menos numa determinada fase da vida, praticamente todas as pessoas consultam o dentista. Ao examinar com cuidado todas as regiões da boca, ele já vai contribuir e muito para avaliação de uma doença ou suspeita que possa vir a ser um câncer.
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