Como entender o resultado de biópsia em câncer de cabeça e pescoço
- daniellezanandre
- 19 de set.
- 4 min de leitura
Receber um pedido de biópsia ou o resultado desse exame pode gerar muitas dúvidas e preocupações. Essa é uma etapa importante para confirmar ou descartar a presença de um câncer de cabeça e pescoço.

O que é a biópsia?
A biópsia é o exame mais preciso para confirmar a presença ou não de um câncer e fornecer informações, como o tipo específico de tumor, seu grau de agressividade e outras características essenciais para a elaboração do plano individualizado de tratamento do paciente
Para realizar o procedimento o médico retira um pequeno fragmento do tecido suspeito — que pode ser de regiões como boca, garganta, laringe, faringe, tireoide, entre outras. No caso de lesões profundas como tireoide e glândulas salivares, realizam-se biópsias por agulha, guiadas por ultrassonografia ou por tomografia computadorizada. Esse material é enviado para análise em um laboratório de patologia, onde o médico patologista avalia as células ao microscópio.
O objetivo é identificar se as alterações vistas nos exames clínicos e de imagem realmente correspondem a um câncer, ou se referem-se a lesões benignas (como inflamações ou tumores não cancerígenos).
Nos cânceres de cabeça e pescoço, a biópsia pode ser feita por diferentes métodos, desde a coleta superficial, por uso de endoscópios ou agulhas especiais para acessar áreas mais profundas e até mesmo durante a cirurgia.
O resultado é fornecido no laudo anatomopatológico, um documento complexo, organizado em seções. A pessoa mais indicada para interpretar o resultado é o médico do paciente. Entre as informações que, em geral, constam desse laudo estão:
Identificação - dados do paciente, número do prontuário, data da biópsia e número único da amostra atribuído pelo laboratório de patologia.
Informações clínicas - histórico fornecido pelo médico que coletou a amostra, incluindo suspeitas diagnósticas e pedidos especiais ao patologista.
Descrição macroscópica - registra tudo que o patologista observa a olho nu - tamanho, cor, consistência da amostra e sua localização anatômica exata. A depender do tamanho da biópsia, pode incluir a distância do tumor até as margens cirúrgicas.
Descrição microscópica - detalha a aparência das células ao microscópio, sua organização, extensão da invasão dos tecidos vizinhos e resultados de colorações especiais (imunohistoquímica). Esta seção é fundamental para determinar o tipo histológico e grau de diferenciação do tumor.
No caso de cânceres de cabeça e pescoço, o laudo da biópsia traz informações específicas relativas a esse grupo de doenças oncológicas:
Localização anatômica - informa exatamente onde o tumor está localizado, seja na cavidade oral, faringe, laringe ou outras estruturas, uma vez que isso influencia no tratamento e prognóstico.
Tipo histológico - o carcinoma espinocelular representa 90% dos casos de câncer de cabeça e pescoço. São tumores que se originam nas células escamosas (que revestem as superfícies internas da boca, garganta, laringe e outras estruturas da cabeça e pescoço). Outros tipos de tumores são: adenocarcinoma, carcinoma adenoide cístico (especialmente em glândulas salivares) e linfomas, entre outros.
Grau de diferenciação - tumores bem diferenciados apresentam células mais semelhantes ao tecido normal e crescimento mais lento, enquanto os pouco diferenciados são mais agressivos e têm comportamento mais imprevisível.
Além disso, o laudo também pode trazer marcadores moleculares específicos sobre o diagnóstico desse tipo de câncer:
Status do HPV: informação importante em tumores de orofaringe, o teste para HPV (papilomavírus humano) é fundamental porque HPV-positivos apresentam melhor resposta ao tratamento e prognóstico mais favorável.
Proteína p16: é um marcador indireto da infecção por HPV e pode influenciar as estratégias terapêuticas.
PDL1: indica se um tumor é ou não sensível a tratamento com imunoterapia.
Fatores de Risco: o patologista pode identificar alterações relacionadas ao tabagismo e álcool, principais fatores de risco para estes tumores.
Diagnóstico final do câncer de cabeça e pescoço
A seção mais importante do laudo é o diagnóstico, que resume todos os achados e estabelece o tipo exato de câncer. Esta conclusão pode incluir o estadiamento (doença está em fase inicial ou avançada), se for determinável pela biópsia. É possível que sejam necessários exames de imagem complementares.
Em situações em que o resultado da biópsia é inconclusivo, o médico patologista pode recomendar biópsias adicionais ou outros exames para esclarecer o diagnóstico.
Alguns termos que você pode encontrar em seu laudo anatomopatológico:
Atipia: as células têm uma aparência anormal, mas não necessariamente cancerosa. A atipia pode sugerir que as células estão em um estágio de alteração que pode evoluir para câncer, o que indica necessidade de acompanhamento.
Benigno: a alteração ou massa não contém células cancerosas.
Lesão precursora: hiperplasia atípica ou carcinoma in situ são lesões que podem se transformar em câncer invasivo no futuro e precisam ser tratadas e monitoradas.
Maligno: a amostra contém células cancerosas.
Necrose: é a morte celular em uma área específica. Pode ser encontrada em tumores benignos e malignos. Neste último, pode indicar crescimento agressivo.
A biópsia é um passo essencial para identificar corretamente lesões suspeitas na cabeça e pescoço. O resultado traz informações valiosas, mas que precisam ser explicadas por um médico especialista para que façam sentido no contexto de cada paciente.
Em alguns casos com diagnóstico inconclusivo de uma biópsia de tireoide, pode-se realizar um estudo genético que permite em um grande número de casos definir se a amostra é de doença benigna ou um câncer.
Se você ou alguém próximo recebeu um laudo de biópsia, não se assuste com os termos técnicos. Procure o especialista, tire suas dúvidas e siga as orientações médicas — esse é o caminho mais seguro para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.




