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Coorte STROBE relata reviravolta histórica da retirada completa da laringe em pacientes oncológicos

Foi registrada entre os séculos 19 e 21 uma reviravolta na laringectomia total (retirada completa da laringe). É o que destaca o estudo Total laryngectomy for laryngeal cancer 150 years after its first description: A boon more than a calamity: A STROBE analysis publicado na revista científica European Annals of Otorhinolaryngology, Head and Neck Diseases por pesquisadores da Universidade Paris Cité, Hôpital Français e Escola de Medicina da Universidade de Stanford.



O trabalho consistiu em uma análise observacional retrospectiva usando a diretriz STROBE. Os autores compararam duas coortes de pacientes com câncer não tratado previamente e que, após o diagnóstico, foram tratados por laringectomia total: a primeira consistindo de 123 pacientes coletados por Morell Mackenzie durante quinze anos (1873-1887) após a descrição inicial, e a segunda reunindo 53 pacientes tratados consecutivamente em um período de quinze anos (2006-2020) anteriores ao 150º aniversário da primeira apresentação.


De acordo com o cirurgião de cabeça e pescoço e Professor Doutor Luiz Paulo Kowalski, que comenta o estudo, o mérito do trabalho está em comparar, neste intervalo de 150 anos, as estimativas de sobrevivência e controle locorregional. “Com isso, podemos quantificar e qualificar os resultados dos tratamentos oferecidos aos pacientes submetidos à retirada total da laringe”, celebra. O trabalho também avaliou desfechos secundários, como estimativas e causas de mortalidade, tratamentos adjuvantes e modalidades de fonação.


Os resultados trazidos no estudo apontam que as estimativas de sobrevida atuarial de 26,2%, 13,1% e 13,1% em 1, 3 e 5 anos na coorte de Makenzie aumentaram para 88,6%, 68,4% e 60,9% na recente coorte francesa. As estimativas de controle atuarial locorregional de 50,1%, 40,4% e 34,7% de 1, 3 e 5 anos na coorte Mackenzie aumentaram para 83,7%. A mortalidade geral de 77,7% na coorte Mackenzie diminuiu para 37,7%.


Na coorte Mackenzie, 97,8% das mortes foram relacionadas a complicações pós-operatórias e recorrência locorregional, em comparação com 50% na coorte francesa recente. Metástase à distância, segundo tumor primário metacrônico e doenças intercorrentes, não mencionadas na coorte Mackenzie, geraram 45% dos óbitos na coorte francesa. O tratamento adjuvante não foi usado na coorte Mackenzie, enquanto o esvaziamento cervical e a radioterapia pós-operatória foram associados em, respectivamente, 98,1% e 69,8% dos casos na coorte francesa. A fonação não foi documentada na coorte Mackenzie; 50% dos sobreviventes na coorte francesa usaram uma válvula fonatória.

Diferentes populações – Por conta da distância temporal, a amostra não foi homogênea. A idade variou entre 42 e 85 anos. A idade mediana foi significativamente maior na coorte francesa (63 anos) do que na coorte Mackenzie (52 anos). Em 99,1% dos casos (122/123), o câncer era um “epitelioma” ou um “carcinoma” na coorte de Mackenzie, e um carcinoma espinocelular em todos os casos (53/53) na coorte francesa. Os próprios autores ressaltam que o estudo envolve muitos vieses devido à falta de dados de comorbidades e extensão do tumor, critérios de seleção e manejo perioperatório (preparação para cirurgia e retomada precoce das atividades) na coorte de Mackenzie, viciando a força “científica” de uma comparação feita 150 anos mais tarde.


Referência do estudo

Laccourreye O, Garcia D, Mudry A. Total laryngectomy for laryngeal cancer 150 years after its first description: A boon more than a calamity: A STROBE analysis. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2022 Oct 6:S1879-7296(22)00111-9.



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